segunda-feira, 15 de março de 2010

Por que Wagner prefere César Borges a Geddel

Para bons entendedores que compareceram ao evento de posse da nova direção do PT, no último sábado, num hotel na Barra, o governador Jaques Wagner (PT) deixou claro, ao discursar, que não vai se submeter a qualquer capricho de seu partido com relação à montagem da chapa com que pretende disputar a reeleição, em outubro. Por capricho, pode se entender, neste momento, a candidatura de Waldir Pires ao Senado, que cresce entre os petistas, conforme mostrou o mesmo evento de sábado, onde o ex-governador teve seu nome praticamente aclamado e recebera aplausos em maior número do que o próprio governador, segundo relatos diversos, entre os quais não se incluem os da imprensa.

Apesar de não lhe terem dado o direito de falar, numa estratégia que tem tudo para ter sido combinada de forma a não levantar ainda mais a bola já cheia de Waldir na militância petista, o ex-governador foi ovacionado, efusivamente, pelos petistas em dois momentos da festa de posse do novo presidente da legenda, Jonas Paulo. Na primeira ocasião, definida por um presente como quase constrangedora, quando foi chamado para sentar-se à mesa em que foi mantido calado. Na segunda, igualmente intensa, no momento em que Wagner citou-lhe o nome de público em meio a uma fala na qual deixou cristalina sua visão da chapa que pretende liderar.

“Temos que escolher se vamos decidir pela chapa dos nossos sonhos ou por uma chapa que reúna os sonhos e o compromisso de dar continuidade ao nosso projeto político, vencendo as eleições”, afirmou o governador, dando volume às especulações de que, apesar do respeito que devota a Waldir, não vê nele o apoio de que precisa para vencer a reeleição. Posição inversa ocuparia César Borges, do PR, partido a que Wagner se referiu no encontro. Borges é considerado um ícone do carlismo que o governador declara extinto, mas que, na visão dos petistas, representaria a antítese do sonho do partido, personificado pela figura lutadora e até injustiçada de Waldir pelo próprio grupo a que o senador pertenceu.

O problema é que, na calculadora de Wagner, a aposta num companheiro como Waldir, neste momento, não soma e, sem adição, também segundo imagina, pode acabar sendo imensamente prejudicado, ainda que o governador não acredite em sua própria derrota sob hipótese nenhuma. Wagner considera que a percepção de seu governo pela população é agora muito melhor que a de antes e ainda vai melhorar mais, levando-o à reeleição. Mas prefere que o resultado seja proclamado logo no primeiro turno, de forma a resolver de uma vez a disputa, sem precisar, principalmente, fazer novas alianças e concessões. Trata-se de uma preocupação não confessa com o ex-aliado Geddel Vieira Lima, candidato do PMDB ao governo, a quem não gostaria de enfrentar na hipótese de um segundo turno, muito menos de chamá-lo para discutir eventual apoio numa segunda etapa eleitoral, se Paulo Souto se tornar o principal adversário do governador.

Neste caso, Wagner tem certeza de que, para ganhar a eleição, ainda que conte com todo o apoio do Palácio do Planalto (se Dilma tiver vencido ou for ao segundo turno, situações que lhe favorecem), teria que negociar com o peemedebista participação em seu governo e na esfera federal, repetindo assim uma história que já viu acontecer no passado recente e cujo desfecho não lhe pareceu agradável. A avaliação está na raiz do comentário, levemente distorcido, de que, em conversas, o governador tem dito preferir em sua chapa Borges a Geddel.

A questão agora é saber se Wagner terá logo condição de convencer o PT de que a melhor estratégia eleitoral é aliar-se a um ex-inimigo do petismo, excluindo de sua chapa uma lenda viva das esquerdas baianas, ou se será obrigado a enfrentar ainda o desgaste adicional de impor ao partido a escolha que considera mais apropriada.

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