segunda-feira, 15 de março de 2010

Fernando de Fabinho cede entrevista ao Bahia Notícias




Bahia Notícias: O senhor esteve em Brasília, acompanhado do governador Jaques Wagner (PT), nesta quinta-feira (10), logo após ter confirmado a sua adesão à candidatura de reeleição de Wagner na Bahia e o seu apoio à ministra Dilma Rousseff (PT), da Casa Civil, para a disputa nacional. Como foi sua primeira ida à Brasília como um membro da base governista?


Fernando de Fabinho: Nós tivemos com o ministro Alexandre Padilha (da Secretaria de Relações Institucionais. Foi mais uma apresentação. Trabalhei a vida inteira na oposição, então eu precisava de uma apresentação formal, uma apresentação em que o governador abalizasse essa nossa entrada no apoio em Brasília ao Governo Federal, porque éramos oposição lá e cá.


BN: Como está sendo essa experiência de mudar de grupo político após vinte anos de carreira política?


FF: É uma coisa nova. É a primeira oportunidade que eu mudo de grupo político. Tenho vinte anos fazendo política no mesmo grupo. É como se você estivesse saindo de um time e entrando em outro. Você conhece todos os jogadores de nome, pessoalmente, mas não tem uma convivência. Então é uma nova convivência para mim, uma nova caminhada política, em um novo grupo.


BN: De quem partiu a idéia de mudar de grupo, de uma vontade pessoal sua ou de um convite do governador?


FF: Olha só, o governador Jaques Wagner quando me recebeu lá na governadoria deu uma resposta a essa pergunta que eu gostaria de repetir aqui para você: nós nos encontramos. Nos encontramos, conversamos, e estamos juntos, preparados para enfrentar esse novo desafio de começar tudo de novo em um novo grupo, com uma nova maneira de fazer política, uma nova condução do processo político no Estado. Nós vamos nos integrar nessa nova maneira de trabalhar para o povo da Bahia.


BN: Mas como deu esse “encontro”? Por que neste momento?


FF: Desde que eu cheguei a Brasília, no primeiro mandato, que eu cheguei na oposição, e naquele período tivemos a oportunidade de receber vários convites para poder fazer parte da base aliada do governo Lula, e a gente entendeu no primeiro mandato que não deveríamos estar presentes. No segundo mandato também tivemos convites, que sempre surgiram. Graças a deus eu sempre tive um bom relacionamento com todos os segmentos do governo, e grandes amigos em todos os lados. Só que era preciso também que você percebesse o interesse por parte do governo. O importante não é só ir mais um deputado para a base do governo, é você perceber que o governo, a figura e a pessoa do governador, também tem interesse na sua adesão, no seu trabalho, com o espaço político que você ocupa.


BN: O senhor fala sobre “uma nova maneira de fazer política”. O que diferencia da maneira anterior, simbolizada na figura do senador Antônio Carlos Magalhães?


FF: A política na Bahia, é preciso que isso fique claro, depois da ausência de Luis Eduardo Magalhães e do senador Antônio Carlos, ela tem uma filosofia totalmente diferente. A nova forma de fazer política, principalmente para um partido como o PT, que está no Governo do Estado, é exatamente ter o poder e a condição de aglutinar. O PT sempre foi mais fechado, 100% esquerda, e a gente observa que o governo Wagner ele abre os horizontes, permite o acesso de pessoas e isso, como ele mesmo disse, aprendeu com o presidente Lula e está aplicando aquilo que deu resultado no Governo Federal aqui no Estado. Então ele está agregando, aglutinando, recebendo, diversos políticos e diversos partidos e isso é uma nova maneira de fazer política no nosso estado.
BN: Então está correta a tese do governador Jaques Wagner de que o Carlismo acabou?


FF: Não é que acabou, mas eu acho que o carlista na Bahia ele vai funcionar sempre como funciona o Peronismo na Argentina e em diversas outras tradições política que existem em outros estados brasileiros. Aqui vai continuar tendo sempre aquelas pessoas que militam dentro da filosofia do Carlismo. O Carlismo se confunde exatamente com a direita, direita de centro. É comum, pela liderança que ocupou o senador Antônio Carlos, que é incontestável e que todos nós reconhecemos, e não reconhece somente o homem da esquerda, do centro e da direita, reconhece todos os baianos e brasileiros a sua ascensão política e sua capacidade de liderar a política no Estado. Não é a toa que viveu politicamente e sempre lutou em 50 anos de vida pública, é realmente um homem diferente. Nós temos que entender que agora é diferente. Com a sua ausência, se busca exatamente o espaço para trabalhar de forma de aglutinar, e vão se formando vários grupos, várias lideranças vão surgindo. Uma liderança muito forte, como foi o tempo inteiro a do senador Antonio Carlos, ela impede que novas lideranças surjam. Não porque ele quisesse impedir, mas é porque ela é tão forte, que consegue abafar e impedir que novas lideranças venham surgir no estado durante aquele período que ele fortemente comandou a política no estado.


BN: Essa política de aglutinação do governador põe fim à ideologia na política baiana, como compreendem alguns cientistas políticos em entrevistas à imprensa?


FF: Eu acho que a ideologia que todos os políticos ela vai parar exatamente naquilo que consta em todos os estatutos, que é exatamente o bem social, o resultado para o ser humano. Então todos os estatutos de todos os partidos tem lá um artigo determinando que o interesse maior do partido é o bem comum, é o social bem feito, é estar à disposição em defesa de ações que dêem resultados para o ser humano. A ideologia partidária hoje, o princípio maior, o fundamento maior, é o bem estar do cidadão, e aí se encaixa o PT, o Democratas, o PDT, o PPS, o PSTU, enfim. Ai são mais outras ações, até mesmo de forma individual, que busquem fazer a diferença.


BN: Como avalia a reação de setores do PT à possível composição com o senador César Borges (PR) em uma das vagas para o senado na chapa de Wagner. É viável politicamente, ou os candidatos podem perder voto?


FF: Eu acho que não. Estamos exatamente pensando a política na Bahia de uma forma diferente, agindo de uma forma diferente. Isso aconteceu a nível nacional com o presidente Lula, que disputou várias eleições fechado, sem fazer alianças, e sua primeira vitória foi quando ele buscou ampliar esse arco de alianças, e são com essas alianças que ele governa o país e tem tido resultados positivos. O governo Wagner busca espaço para fazer novas alianças, e isso não prejudica. Amplia as chances de vitória do governador.


BN: E as reações contrárias no PT...


FF: Isso é natural. Em todo o grupo quer seja da direita, do centro, da esquerda, no momento que você tem adesões que vem de outros partidos, há aqueles que ficam felizes e há aqueles que acham que não deveria dar aquele espaço, que não deveria receber. A política é muito dinâmica e temos às vezes querelas paroquiais. Há deputados amigos que nós temos, em cidades do interior, os nossos embates políticos, as nossas lutas pelas idéias. Então isso termina às vezes respingando nas adesões de forma a rejeitar. Há projetos políticos dentro de grupos, principalmente em um grupo grande como é o do governador Wagner. Isso (a adesão), imagino, pode ameaçar aquele projeto político, ou retardar o projeto de alguém, de forma que essas reações se tornam naturais.


BN: Essa disputa de votos dentro da base, tão diversa, pode gerar algum conflito entre os aliados?


FF: Eu acho que não. Democraticamente todos os candidatos têm o interesse de buscar os seus votos. Quem vai decidir para quem vão os votos é o eleitor, que vai ter um leque para escolher aquele que tenha a capacidade de lhe representar. Se eu penso mais assim, então é esse o candidato que acompanha meu pensamento. Isso é bom para a democracia.


BN: Já definiu quais as candidaturas vai apoiar nestas eleições?


FF: Não, isso nós estamos esperando o momento certo. Vamos conversar um pouco mais com o governador e vamos trabalhar politicamente um deputado federal e um estadual, ou até mais de um, com a intenção de ajudar politicamente o governo do estado.
BN: Como está a situação de sua filiação ao PP?


FF: No momento continuo filiado ao Democratas. Eu entendo que não é necessária a minha desfiliação nesse momento. No momento certo, ai nós vamos começar a trabalhar com mais intensidade para poder integrar a um partido político.


BN: Como foi a conversa com o ex-prefeito José Ronaldo, que lidera o seu antigo grupo político na região de Feira de Santana?


FF: Uma conversa de amigos fiéis, que a gente aprendeu a gostar independente da política, daquele que aprendeu a ser companheiro, a ser conselheiro. A amizade que nos nutre é muito grande e muito forte, mas isso não impede as posições políticas. Independente de qualquer coisa, se a amizade existe, é porque existe o respeito mutuo e na minha decisão o respeito existiu. Eu sei que ele não teve nenhum interesse que isso acontecesse, ele buscou nessa conversa entre nós que continuássemos juntos, isso é natural. Mas o que importa é que nós tomamos essa decisão e isso não afetará de forma nenhuma o relacionamento do amigo, irmão e companheiro José Ronaldo.


BN: Depois de não ter sido indicado por José Ronaldo para ser o candidato do DEM à Prefeitura de Feira de Santana, o senhor veio se afastando da política local. Não indicou secretários para a prefeitura e desmontou sua estrutura política local. Porque este afastamento?


FF: Antes da indicação para a prefeitura de Feira de Santana nós tomamos, de cunho puramente pessoal, uma decisão política de não me candidatar em 2010. No momento que se toma essa decisão, não justifica continuar trabalhando politicamente, manter estruturas, já que você não vai estar na disputa de 2010. Na questão da indicação de nomes para a prefeitura, foi uma questão puramente de decisão interna de grupo. Se eu fosse o escolhido pelo prefeito José Ronaldo nós teríamos naquela oportunidade, opinião minha, uma divisão em nosso grupo. Talvez nós não tivéssemos os companheiros que estiveram conosco na eleição de Tarcísio Pimenta (atual prefeito de Feira, do DEM).


BN: Por que haveria essa divisão?


FF: Se eu fosse o indicado de José Ronaldo talvez os outros deputados do próprio grupo que também tinham interesse para serem indicados talvez não estivessem nos apoiando, e talvez houvesse essa divisão, que não era prudente e não era importante. Precisávamos ganhar a eleição.


BN: Por que a decisão de não disputar as eleições em 2010?


FF: Decisão puramente pessoal. Eu entendi que vinte anos na vida pública, viajando por demais essa Bahia, vivendo 24 horas por dia o momento político e sem viver a família, sem cuidar dos negócios. Eu decidi que deveria pensar um pouco mais nessas questões, e entendi que não teria como, se não me afastasse principalmente das eleições, da busca do voto, da assistência direcionada a cada liderança política.


BN: O senhor então pensa na possibilidade de abandonar a política?


FF: Não, a prova esta aí. Estamos juntos com o governador, vamos lhe ajudar na sua eleição e esperamos no futuro ter um aproveitamento para continuar ajudando.
BN: Através de alguma secretaria?


FF: Não teve essa conversa entre eu e governador. Nós conversamos bastante sobre a política na Bahia, mas não entramos nesse processo de exigências, até porque estou chegando agora, o governo está no seu último ano. É um processo de aglutinação. Eu não vou disputar a eleição, então não tem porque ficar exigindo cargos, direções, cargo pelo interior do estado. Por que você vai prejudicar alguns amigos políticos que têm esses cargos, que estão usufruindo dessas indicações? Apenar para dar essa satisfação para o eleitorado? A gente chega de forma simples, humilde, mostrando que a gente veio para trabalhar, para ajudar, para colaborar, e esperar o resultado das eleições, que a gente percebe que será um resultado positivo para o governador Jaques Wagner e a partir daí se colocar à disposição no próximo governo.


BN: Acredita que os eleitores que sempre votaram no senhor, e naturalmente votavam também no candidato escolhido por ACM ao Governo do Estado, estariam propensos a mudar e aceitar a sua orientação para votar em Wagner?


FF: Veja só, é o que eu tenho conversado sempre, e conversei também com o governador. Todas essas mudanças têm naturalmente as suas reações, os prós e os contras, tem aqueles que lhe acompanham e tem aqueles que também não podem, ou acham que não devem lhe acompanhar por uma série de fatores. Seja pela ideologia política ou pela própria estrutura política que ele vive em seu município, em que o seu adversário termina sendo o próprio Governo e ele entende que não deve se aliar nesse momento, e assim sucessivamente. Mas o que importa é que nós temos consciência que os eleitores, dentro desse universo de 160 mil votos que tive na última eleição, e muitos que a gente consegue conquistar durante esse período que nós estamos trabalhando politicamente, com certeza muito estarão conosco. Eu espero que a maioria absoluta esteja comigo na eleição do governador Jaques Wagner.


BN: Pretende retornar eleitoralmente à política em 2012? Falo da disputa para a prefeitura de Feira de Santana.


FF: É muito cedo para se comentar desse assunto. O interesse do momento é fazer o trabalho que estou fazendo e o futuro nós entregamos ao senhor do Bonfim para que ele continue nos protegendo e dando norte nessa caminhada.


BN: A maioria dos aliados do governador hoje veio do seu antigo grupo político, e sua saída para apoiar Wagner simboliza esse movimento. Essas mudanças de grupo têm se tornado corriqueiras nas política baiana e, de certa forma, esvazia o grupo dito carlista, liderado na Bahia pelo DEM. Como está o clima dentro desse grupo político com esse fenômeno? Como o partido está se organizando para disputar as eleições desse ano sem a estrutura que tinha há quatro anos atrás? Acredita que a vitória da oposição na Bahia é viável?


FF: Eu prefiro não fazer um comentário maior a respeito dessa colocação. Os grupos políticos, independente do resultado da eleição, eles tem que se posicionar. A candidatura do ex-governador Paulo Souto é uma realidade dentro do grupo político dos Democratas, e outras que vão ser postas, a candidatura do ministro Geddel Viera Lima (PMDB) também é uma realidade. O embate político, ele só torna-se democrático e satisfaz o eleitorado no momento que você tem opções de escolha. Vai ser escolhido aquele que a população entender que tem condições de fazer um grande trabalho. O que a gente percebe, acompanha e tem a oportunidade de ver são resultados de pesquisas que dá a reeleição de Wagner no próximo pleito. Essa é a realidade que todos nós estamos acompanhando e os números não nos deixam mentir nessa colocação.
BN: Sobre a possibilidade de Tarcísio Pimenta também aderir ao governo. Alguns deputados da base comentam sobre essa articulação. O senhor conversou com ele sobre essa questão?


FF: Não. Por incrível que pareça, eu ainda não tive condições de conversar com o prefeito Tarcísio Pimenta. Não dialogamos nada sobre o futuro e uma possível adesão dele ao Governo do Estado.


BN: Como é sua relação hoje com seus antigos adversários políticos, a exemplo dos deputados Zé Neto e Sérgio Carneiro (ambos PT)?


FF: Na minha vida política, uma coisa que eu sempre busquei preservar foi o bom relacionamento com os nossos pares e com todos os políticos no estado. Graças a Deus em todos os municípios que eu fiz política eu sempre tive bom relacionamento com meu grupo político e também um relacionamento cordial com todos os adversários, muitos até amigos. Na Assembleia Legislativa e na Câmara Federal também. Sempre transitei em todos os grupos políticos normalmente sem maiores empecilhos. Eu costumo utilizar sempre a filosofia dos rios. Na hora que o obstáculo aparece o melhor é desviar e seguir caminho para atingir o objetivo e eu sempre trabalhei dessa forma.


BN: Há poucos dias atrás o senhor estava na bancada de oposição ao governo do presidente Lula, e consequentemente era contrário à candidatura da ministra Dilma. Não há nenhum incômodo nessa mudança radical de posição?


FF: Veja bem, eu posso antecipar para você que nos dois últimos anos eu já não fazia oposição ao Governo Lula. Eu procurei parar para acompanhar a movimentação política do presidente Lula, do próprio Governo Federal, que é natural que tenha suas falhas, mas temos consciência que temos grandes feitos, grandes resultados, principalmente no ganho que mais queremos, que é o social, no atendimento àquele que mais precisa do poder público. Nos dois últimos anos não fiz oposição. Me mantive neutro buscando analisar, observar e acompanhar todo o desenrolar da caminhada. O que eu pude analisar nesses dois anos foi o crescimento de forma absoluta do presidente Lula junto ao eleitorado, aonde ele se identifica da melhor forma possível; um crescimento do país mesmo diante dessa crise toda que nós enfrentamos em 2009 e o crescimento também da candidatura da ministra Dilma, que é uma mulher muito competente, sabe o que faz e tem condições tranquilamente de fazer um grande trabalho à frente do Governo Federal. Ela desenvolve um belíssimo trabalho no seu ministério. Há um reconhecimento nacional das ações da ministra Dilma no governo do presidente Lula. E o presidente Lula lhe escolhe com muita propriedade e coloca à disposição do eleitorado brasileiro essa mulher que lhe deu sustentação.Tudo que aconteceu no governo Lula foi com as mãos de Dilma trabalhando para que se tornasse realidade. Há um equilíbrio, um entrosamento e um entendimento muito grande entre Dilma e Lula, e isso reflete no reconhecimento já na população brasileira, com seu crescimento político nos últimos meses.

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